quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Corticosteroides inalatórios no tratamento de asma - Pt 2

          Como foi explicado na postagem anterior, a asma é um processo inflamatório que provoca alterações nos componentes da via respiratória. A corticoterapia é utilizada devido a sua efetividade no controle de sintomas, além de diminuir o efeito da inflamação, o que ocorre devido a capacidade destes compostos de estimular a síntese de proteínas importantes e de inibir de genes responsáveis por codificar receptores que favoreciam o processo inflamatório. Para isso, o corticosteroide, já dentro do corpo, deve ligar-se a um domínio específico da RG, um receptor glicocorticoide presente no citoplasma das células, o qual sofrerá mudança conformacional e realizará uma translocação para o núcleo. Lá, liga-se a determinadas sequências do DNA para realizar a transativação, o que favorece a transcrição de genes que auxiliam no efeito anti-inflamatório. Vale comentar que a resistência a tal processo existe e ocorre por causa de uma diminuição da afinidade da RG com células inflamatórias, o que dificulta as ações do medicamento. Os corticosteroides também induzem a deacetilação da histona, ou seja, mantém o DNA enrolado para diminuir a transcrição de genes pró-inflamatórios. Tal procedimento é lento e, por isso, recomenda-se o uso a longo prazo, tornando o tratamento dependente do tempo e da dose.
     Os corticosteroides utilizados no tratamento são sintéticos, tendo como modelo os glicocorticosteroides e sua ação no corpo como um potente supressor imunológico endógeno. No entanto, quando é produzido no córtex da adrenal e liberado na corrente sanguínea, o cortisol, por exemplo, pode gerar possíveis problemas, como o aumento da glicemia devido a estimulação da gliconeogênese nas células do fígado e alterações no tecido ósseo. Além disso, a suspensão do medicamento promove a volta dos incômodos causados pela condição. Há estudos que indicam que é possível prevenir o desenvolvimento da asma com o tratamento precoce, mas como vimos na postagem "Uso de corticoides para tratamento da sibilância", identificar os menores asmáticos é um processo muito complicado e o uso a longo prazo, principalmente em altas doses, pode prejudicar o crescimento da criança. De tal forma, recomenda-se reduzir gradualmente as doses ao longo do tratamento para, assim, diminuir os riscos.

          Por fim, conclui-se que o corticosteroide sintético, apesar da eficiência em diminuir os sintomas e a intensidade da doença, pode provocar os efeitos metabólicos citados, e, mesmo assim, é o tratamento mais utilizado e recomendado. Agora, é necessário o desenvolvimento de fármacos com a mesmas propriedades que os corticosteroides, porém, com menos consequências desfavoráveis, além da criação de um meio prático para um controle efetivo e melhor análise da doença.


Referências:
http://scielo.iec.pa.gov.br/pdf/rbps/v15n1/v15n1a07.pdf
http://www.moreirajr.com.br/revistas.asp?fase=r003&id_materia=4051
https://en.wikipedia.org/wiki/Asthma

Programa sobre o excesso de corticoides


O programa Bem estar, da Globo, trouxe em 2012, uma reportagem interessante sobre o excesso de corticoides e seus prováveis resultados. Segue o link abaixo. Não é um video demorado e traz o caso de uma paciente que realmente utilizou a corticoterapia por muito tempo. Trazendo da teoria para a prática!
Programa sobre excesso de corticoides

Retirada da Corticoterapia

A corticoterapia (tipo de tratamento para as mais diversas doenças utilizando os corticoides) é extremamente utilizada em vários casos e reduziu a morbimortalidade de pacientes com doenças consideradas graves como doenças autoimunes, transplantes de órgãos, processos alérgicos, etc. 
Mas em casos como esses, onde a terapia é intensa e são utilizadas doses altas, foi comprovado que há efeitos colaterais e que pode causar três problemas/complicações se o uso for interrompido abruptamente, sendo essas complicações: suficiência adrenal secundária à supressão do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA), reativação da doença de base e síndrome de retirada dos corticóides.
Logo abaixo, segue uma tabela com os principais fatores de risco para o desenvolvimento das síndromes que são relacionadas a retirada ou suspensão da corticoterapia. 


Com a retirada, pode haver a supressão parcial ou total do eixo HHA por conta da atrofia das glândulas renais, levando a insuficiência adrenal secundária. Tem como sintomas, náuseas, vômitos, sintomas anorexigenos, cansaço, dores abdominais, depressão e sonolência e para ser tratada é utilizado a introdução de pequenas doses de corticóides e ir retirando aos poucos. 
Tem também, a sindrome de retirada, que é caracterizada por dependência física e/ou psíquica e pode apresentar vários graus e tem as mudanças de humor e vulnerabilidade como alguns dos principais sintomas que, inclusive, podem ocorrer mesmo quando a dose do medicamento está em níveis suprafisiologicos. 
E a reativação da doença de base é quando, após a parada abrupta, os sintomas da doença que estava sendo tratada voltam e pode ser um indicio que é necessário aumentar as doses de corticoides usado. 
Visto que a retirada repentina pode causar tantos efeitos, é preciso que haja um planejamento para isso. Existem diversos pontos que devem ser levados em conta para que seja feito da forma mais segura possível como a idade, a finalidade da corticoterapia, tipos de corticoides utilizado, tempo que durou o tratamento, etc, fazendo com que tenha vários esquemas para a retirada da corticoterapia mas não ha um consenso ou ensaio clinico, fazendo com que cada medico ou profissional da saúde, determine como será feita a retirada da melhor forma possível. 
Sabendo usar e conseguindo retirar da melhor forma possivel, a corticoterapia é extremamente útil e veio para enriquecer a medicina, salvando diversas pessoas. 

Obs: Pacientes que utilizam da terapia com corticoide no período de 7-14 dias não precisam se preocupar, pois nesse período não se desenvolve supressão do eixo HHA, fazendo desnecessário um esquema para a retirada. 

Mariana Nunes




Corticoides podem causar diabetes ?

Com o uso prolongado de corticoides, um caso de diabetes pode ser desenvolvido devido à ação dos glicocorticóides no metabolismo de carboidratos ao fazerem com que a taxa de glicose no sangue aumente devido ao estímulo da gliconeogênese.

O desenvolvimento de diabetes se dá devido à hiperglicemia causada pelo estímulo da gliconeogênese e consequente resistência à insulina, que resulta na diminuição da captação de glicose pelos tecidos muscular e adiposo. O quadro de diabetes é moderado e está relacionado à dose de corticoides utilizada e o tempo de uso. Esse quadro de diabetes pode ser reversível, para pessoas que não possuem predisposição genética para o desenvolvimento de diabetes, com a suspensão dos corticóides.


Referências:
http://www.centrocochranedobrasil.org.br/cms/apl/artigos/artigo_464.pdf

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Corticosteroides inalatórios no tratamento de asma - Pt 1

                Na minha postagem anterior, fiz uma análise de um artigo que trata do uso de corticoides inalatórios e orais em casos de sibilância em bebês no primeiro ano de vida. A partir disso, decidi aprofundar no assunto de corticoterapia em asmáticos. Para isso, foi necessário dividir o conteúdo em duas postagens, sendo que a primeira irá retratar a origem e as características da doença por meio de uma breve explicação, e a segunda, o tratamento por corticoides.

                A asma é uma condição muito comum no mundo inteiro e consiste no estreitamento das vias aéreas e em um aumento anormal da produção de muco, sendo, portanto, tratada como um processo inflamatório. Um asmático costuma sentir falta de ar, infecções respiratórias frequentes, tosse, irritação na garganta, entre outros. É classificada de acordo com a gravidade e a frequência dos sintomas, além dos fatores alérgenos que os geram. Porém, a sua causa ainda não é muito compreendida. Muitos estudos indicam que a doença pode ser definida ainda na fase intra-uterina e desenvolvida nos primeiros anos de vida, o que ocorre devido a influência direta de fatores genéticos e ambientais durante o crescimento e estruturação das vias aéreas de uma pessoa. Como é possível a travessia de antígenos pela placenta, pode-se concluir que, de alguma forma, a exposição e a sensibilização à alérgenos ativam os genes relacionados à condição.
                A asma é um processo inflamatório complexo que induz alterações em todas as células do aparelho respiratório, inclusive aquelas que geralmente não possuem o potencial para tal resposta, sendo o grau de alteração diretamente relacionado com a gravidade da doença. As células passam a secretar citocinas, grupos de proteínas solúveis, para permitir a comunicação entre si e a regulação do sistema imunológico com o intuito de responder ao processo inflamatório. Como foi dito anteriormente, pessoas com predisposição para asma desenvolvem a inflamação das vias aéreas ao entrarem em contato com um ambiente específico no início de suas vidas. A partir disso, seus linfócitos Th passam a diferenciar-se em Th1 e Th2, sendo a primeira responsável, resumidamente, por combater antígenos no meio intracelular, e a segunda, no meio extracelular. Os dois subtipos possuem como base o padrão de citocinas produzidas como resposta ao processo inflamatório, sendo a Th2 a predominante na vias aéreas por participar da resposta humoral, ou seja, ativa a produção de anticorpos. Portanto, a partir da estimulação dos linfócitos Th2, liberando uma rede de citocinas específicas, há o início da interação entre diversas células que resulta nas alterações e disfunções presentes na doença.
                As vias aéreas de um asmático sofrem constantes remodelamentos devido ao reparo tecidual das lesões causadas pela inflamação, tendo como consequência a redução da luz brônquica de forma irreversível. Isso também é resultado de estímulos mecânicos e determinantes genéticos, tendo em vista que as células epiteliais de um asmático são mais susceptíveis à lesão, levando a uma morte celular precoce e, assim, liberando uma secreção que promove a proliferação de músculos lisos e vasos sanguíneos, além de uma maior deposição de colágeno, o que causa a obstrução. Portanto, tais alterações do trato respiratório são resultados do seu dinamismo e as diferente estruturas que o compõem, as células inflamatórias que liberam as citocinas e os determinantes genéticos. Conclui-se, então, que o tratamento de asma deve ser realizado com o intuito de prevenir tais mudanças estruturais e diminuir os efeitos do processo inflamatório e, para isso, escolheu-se a corticoterapia inalatória por causa da sua eficiência em diminuir os sintomas.
             
A próxima postagem (1) irá falar sobre o tratamento em si.
             

domingo, 27 de novembro de 2016

Síndrome de Cushing

Quando estamos estressados a glândula suprarrenal produz o cortisol, que geralmente é visto como um hormônio do mal por ser relacionado ao armazenamento de gordura e a perda de massa muscular, mas como qualquer hormônio o cortisol também tem uma função importante, e a sua ausência ou acumulo pode causar doenças.
O cortisol pode liberar ou armazenar gordura, pois ele aumenta a atividade de enzimas responsáveis por cada uma dessas funções. Quando se tem uma alta de cortisol no corpo, ele vai levar à queima da gordura, porém quando essa elevação é prolongada pode causar um poblema típico a Síndrome de Cushing também conhecido como hipercortisolismo.
A Síndrome de Cushing segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) aproximadamente 50 mil pessoas vivem com essa doença atualmente.
A síndrome de Cushing costuma ser causada também por pessoas que fazem tratamento com corticoides, como: asma, lúpus, artrite e outras. Tomar injeções de corticoides pode causar a síndrome também. Essa síndrome é mais frequente em mulheres que são até três vezes mais propensas a desenvolvê-la, a faixa etária é entre 20 e 50 anos de idade.
Os sintomas da síndrome de Cushing costumam variar, os mais comuns envolvem a obesidade e alterações cutâneas, como:

  • Depósitos de gordura no corpo
  • Cicatrização lenta
  • Emagrecimento e pele frágil
  • Estrias na pele, principalmente nas regiões do abdômen, coxas, seios e braços
  • Acne.

Também pode variar de acordo com o sexo.
No sexo feminino, sintomas comuns são:
  • Cabelo facial (hirsutismo)
  • Períodos menstruais irregulares ou ausentes
  • Depósito de gordura no corpo
Já no sexo masculino, esses sintomas aparecem com mais frequência:
  • Diminuição da fertilidade
  • Diminuição da libido
  • Disfunção erétil. 
O tratamento da Síndrome de Cushing

O tratamento consiste em diminuir e estabilizar os níveis de cortisol no organismo, se for causada por causa de alguma medicação a base de cortisol, será preciso ser suspenso gradualmente e procurar outra forma de tratar a doença.
Já se a síndrome for causa por um tumor na glândula suprarrenal, será preciso uma cirurgia para a retirada definitiva.

No blog da Renata Calheiros Viana, ela usa um exemplo do personagem Barney dos Simpsons.
Analisando o personagem Barney Gumble, alcoólatra da série animada Os Simpsons, nota-se claramente características fenotípicas da síndrome de Cushing:

Apesar de ser um hormônio catabólico, o cortisol leva ao acúmulo de gordura abdominal. O motivo é a expressão muito maior, tanto do receptor para glicocorticoide como da enzima formadora de cortisol, no omento do que no restante do subcutâneo. O resultado é a obesidade tronco-facial e, graças ao desenvolvimento de atrofia e fraqueza muscular pelo catabolismo proteico, associa-se ao quadro extremidades finas e consumidas.

 Fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Síndrome_de_Cushing
http://www.abcdasaude.com.br/artigo.php?392
http://www.copacabanarunners.net/sindrome-cushing.html
http://medicineisart.blogspot.com.br/2012/05/sindrome-de-cushing-e-o-personagem.html

Osteoporose induzida por corticóides

Com base em alguns estudos, pode-se afirmar que o uso de corticóides são uma das principais causas de osteoporose secundária, pois o mesmo produz alterações no processo fisiológico de remodelação óssea. O seu uso contínuo aumenta a incidência de fraturas e diminuem a massa mineral óssea.

Antes de mais nada é necessário entender o que é a osteoporose:
Fonte: http://www.herniadedisco.com.br/espaco-dr-coluna/artigos/osteoporose-causas-sintomas-tratamento-2/

A osteoporose é uma doença caracterizada pela perda de massa óssea, provocando uma diminuição na absorção de minerais e de cálcio. Tudo isso condiciona uma diminuição da resistência e aumento da fragilidade óssea, aumentando ainda mais o risco de fraturas.


A osteoporose induzida por corticóides é uma das maiores causas de osteoporose secundária, resultado de um outro transtorno primário ou terapia, o que reforça ainda mais a ideia de que o tratamento com corticóides deve ser analisado e acompanhado de perto por profissionais da saúde.

Mas de que forma os corticóides irão agir? De acordo com um estudo publicado em 2006 pela ArquiMed, eles provocam um desequilíbrio no metabolismo de remodelação óssea normal, aumentando a reabsorção e diminuindo a formação.


Desta forma, a dose e o tempo de duração do tratamento com corticóides faz toda a diferença em relação ao grau da patologia. Porém, ainda não foi determinado uma dose mínima do mesmo, ou seja, uma dose que seja eficaz, mas que ao mesmo tempo não agrida o organismo.



Referências Bibliográficas:
<http://www.herniadedisco.com.br/espaco-dr-coluna/artigos/osteoporose-causas-sintomas-tratamento-2/> Acessado em 27/11/2016 às 17:20.
<http://www.news-medical.net/health/Secondary-Osteoporosis-(Portuguese).aspx> Acessado em 27/11/2016 às 18:00.
PATRICIO, José Pedro et al . Osteoporose induzida por corticóides. Arq Med,  Porto ,  v. 20, n. 5-6, p. 173-178,  set.  2006.